Este clássico publicado por Júlio Verne em 1865, é uma obra seminal da ficção científica que narra a audaciosa tentativa de um grupo de americanos de lançar um projétil tripulado à Lua. Ambientada logo após a Guerra de Secessão, a história começa em Baltimore, na Filadélfia, onde o Gun-Club, uma organização de artilheiros e fabricantes de armas, se encontra em uma crise existencial. Com o fim da guerra, seus membros se veem sem um propósito para suas habilidades. É nesse cenário que o presidente do clube, Impey Barbicane, propõe um projeto extravagante: construir um gigantesco canhão capaz de enviar um projétil à Lua. A ideia, que inicialmente parece um delírio, rapidamente cativa a imaginação dos membros e do público em geral, que contribui financeiramente para o empreendimento. A narrativa de Verne é notável pela sua capacidade de misturar aventura com uma surpreendente quantidade de detalhes científicos e técnicos para a época, antecipando muitos conceitos que seriam explorados na exploração espacial real.
O Gun-Club é apresentado como uma irmandade de engenheiros e cientistas obcecados por artilharia e projetos grandiosos. Liderados por Barbicane, um homem de visão e determinação inabaláveis, eles abraçam o projeto lunar com fervor. A primeira fase envolve a escolha do local para a construção do canhão, que precisa ser estrategicamente posicionado para o lançamento. Após muitas discussões e análises, é decidido que a Flórida, devido à sua latitude favorável e proximidade com o equador, seria o local ideal. A equipe, então, dedica-se aos cálculos complexos e ao design da Columbiad, o canhão gigante que impulsionará o projétil. A magnitude da empreitada é enfatizada pelos desafios de engenharia e logística: a fundição de uma peça tão massiva, a escavação de um poço profundo para abrigar o canhão e a fabricação do próprio projétil, que é concebido para ser uma cápsula habitável. A obra detalha minuciosamente esses preparativos, mostrando a meticulosidade e o otimismo contagiante dos envolvidos.
No auge dos preparativos, surge um novo personagem que injeta um elemento ainda mais audacioso na trama: Michel Ardan, um excêntrico e aventureiro francês. Ardan é um artista e sonhador, com uma paixão inabalável pela exploração e pela aventura. Ele se oferece voluntariamente para ser o primeiro ser humano a viajar à Lua dentro do projétil. Sua chegada provoca ceticismo inicial e debates acalorados entre os membros do Gun-Club, que haviam planejado um voo não tripulado. No entanto, o carisma e a determinação de Ardan, juntamente com sua visão otimista da exploração espacial, acabam por convencê-los. Além de Ardan, outro personagem importante é J.T. Maston, o secretário do Gun-Club, um matemático excêntrico e devotado amigo de Barbicane, que se torna uma figura cômica e dramática ao longo da história. A inclusão de Ardan transforma o empreendimento de um mero experimento científico em uma jornada humana, adicionando uma camada de drama, humor e emoção à narrativa.
A construção da Columbiad e do projétil enfrenta inúmeros desafios. A engenharia da época é levada ao limite, e a colaboração internacional se torna crucial, com nações de todo o mundo contribuindo com fundos e expertise. A logística de transportar materiais e mão de obra para a Flórida é complexa, e a obra descreve vividamente o ambiente frenético e a dedicação de milhares de trabalhadores. O projétil, batizado de "bala", é projetado com alumínio, um material leve e resistente para a época. Os cálculos da velocidade de escape e da trajetória são meticulosos, mostrando o rigor científico com que Verne abordou a história. No dia do lançamento, uma enorme multidão se reúne para testemunhar o evento histórico. A tensão é palpável, e a descrição do momento do disparo é carregada de suspense e emoção. O estrondo do canhão é ensurdecedor, e a bala, com Barbicane, Nicholl (o rival de Barbicane, que insiste em acompanhá-lo) e Ardan a bordo, é lançada em direção ao espaço, desaparecendo rapidamente no céu.
O livro "Da Terra à Lua" termina com o lançamento bem-sucedido do projétil, mas sem a confirmação de que ele realmente atingiu a Lua. A obra deixa em aberto o destino dos três intrépidos viajantes, que é explorado na sequência, "Viagem ao Redor da Lua". A conclusão do primeiro volume foca na incerteza e na expectativa da humanidade diante da audaciosa empreitada. Telescópios em todo o mundo se voltam para o céu noturno na tentativa de avistar a bala lunar. A narrativa de Verne é um testemunho de sua imaginação e de sua capacidade de prever o futuro da exploração espacial. Embora muitas das tecnologias e métodos descritos na obra sejam fantasiosos para a realidade moderna, a essência do espírito explorador e a busca pelo conhecimento são atemporais. "Da Terra à Lua" permanece como um clássico da literatura, inspirando gerações de cientistas, engenheiros e sonhadores, e consolidando Júlio Verne como um dos pais da ficção científica.